quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Eric Clapton: o duelo entre o homem e o mito

Dualismo é o termo que melhor resume a trajetória pessoal e profissional de Eric Clapton, retratada agora pelo próprio mestre da guitarra em sua autobiografia de sucesso lançada no final do ano passado (Eric Clapton – A autobiografia, Editora Planeta, 2007, 400 páginas). Um músico talentoso, porém instável, a ponto de largar bandas no auge do sucesso para tocar por alguns trocados e por diversão; ser homem e ser “deus” – como as paredes do metrô de Londres o nomeavam na década de 60 –; ser pai e ser um astro do blues/rock; continuar vivendo, por mais que a morte o rondasse ao cair de cabeça nas drogas; permanecer na indústria da música por mais de 40 anos, mesmo defendendo com unhas e dentes um estilo musical considerado fora de moda, como o blues autêntico.

Clapton rasga sua intimidade e fala abertamente de sua triste e profunda relação com o álcool, mas maconha, cocaína, heroína, LSD também estão lá, numa viagem de loucura e boa música. Nada é preservado na narrativa, desde a infância pobre, de paternidade desconhecida; os relacionamentos sempre conturbados com belas e inumeráveis mulheres; a luta de egos permanente entre os integrantes do power trio Cream (denominado o primeiro “supergrupo” da história); a convivência com outros gênios como Jimi Hendrix, Muddy Waters e Ahmet Ertegun (morto em 2006, fundador do selo Atlantic), recentemente homenageado com a reunião do Led Zeppelin na capital britânica. Cabe registro especial à relação contraditória com George Harrison, de amor e ódio ao serem grandes parceiros musicais e disputarem durante anos o amor de Pattie.

Caos e redenção estão presentes em momentos emocionantes, como a lembrança da morte de Conor, o filho de cinco anos que caiu do 53º andar em um hotel em Nova Iorque. A dor gerou um dos maiores sucessos de Clapton, “Tears in Heaven”, do premiado álbum “Acústico MTV”, que lançou o guitarrista novamente ao estrelato. A luta contra o alcoolismo permeia sua vida e ficou como principal legado da perda de Conor. Segundo ele, “não havia maneira melhor de honrar a memória de meu filho” ao seguir os conhecidos 12 passos para a recuperação. Além disso, criou há cerca de 10 anos o Crossroads, centro de reabilitação de dependentes em Antigua.

Sóbrio há 20 anos, Eric Clapton mandou para longe seus demônios e vive feliz com sua esposa Melia e três filhas. Mesmo pensando seriamente sobre a aposentadoria, aos 62 anos segue a carreira com seus shows e álbuns repletos de feeling que embalam aqueles que vêem na música a sua religião:
– A música sobrevive a tudo e, como Deus, está sempre presente. Não precisa de ajuda, e não é obstruída. Ela sempre me encontrou e, com a bênção e permissão de Deus, sempre haverá de me encontrar – finaliza no livro.

3 comentários:

Fábio Mayer disse...

Você reconhece uma grande figura pelo jeito com que ela enfrenta seus próprios problemas.

Eric Clapton é um grande ser humano, além de gènio na arte da guitarra.

Unknown disse...

Parabéns pela postagem!!! Eric Clapton o "Deus" da guitarra certamente merece toda reverência como pessoa forte e capaz de lutar pela vida!!! Vida longa para Clapton!!!

Igor Mascarenhas disse...

Não conheço muito o trabalho dele mas pela sua historia e um grande profissional e ser humano.
O comentario fico muito legal.
Parabéns
tamu junto